sexta-feira, 12 de julho de 2019

Lenda do Monstro da Panela do Candal ou Cobra Grande

Diziam existir, em Bagé, na Panela do Candal, localizado próximo à Catedral de São Sebastião, um monstro com a forma de uma grande cobra, que, há muito tempo, vivia tranquilo nos cerros do município.
Nesse local havia um rio de respeito, grande e majestoso. Nesse rio, vivia um monstro que não agredia, nem matava e não tinha dentes e nem garras. Pouco se afastava de perto dos rios, procurando as funduras maiores, onde seu corpo coubesse. Ao entrar nas águas estas marulhavam como se estivessem gemendo, esparramando-se pelas margens, sacudindo-se de ondas.
Mesmo não agredindo ninguém, a grande cobra era caçada pelos soldados do tenente-general Dom Diogo de Souza. Por isso, a criatura veio morar na Panela do Candal, uma região próxima ao arroio Bagé. O monstro em forma de cobra gigante cavou um buraco, formando um túnel e dizem que vive até hoje nesse local.
O aldeamento começou a se formar, e o povoado passou à freguesia, multiplicando-se a população. Por isso, a poucos metros da Panela do Candal, foi construída uma capelinha de São Sebastião, onde hoje em dia é a catedral da cidade. Crescia para ele o risco, e desapareciam as possibilidades de ainda poder sair, para ter um pouco que fosse de liberdade e sossego.
Em certo dia, a criatura surgiu despencando as portas da capelinha, destruindo tudo que enxergava pela frente, confrontando os povoadores da nascente da cidade. Foi nesse momento que o monstro em forma de cobra foi ferido por uma lança de um jovem soldado, arrancando o seu olho. Perdido e sem alternativa, ele fugiu, transportando-se pelos ares, jogando-se novamente na Panela do Candal.
A partir disso, a grande cobra se afugentou no buraco, colocando apenas a cabeça para fora da água para respirar. Sentindo-se ameaçado, o monstro feio, caolho e pacífico, continuou escavando e aumentando o túnel, pois precisava espichar-se, descansar e locomover-se. Até que um dia, cansado de ser caçado e de ficar preso embaixo da terra, revoltou-se, atacando uma carroça com dois cavalos e o rapaz que a guiava, fazendo-os desaparecer nas águas, esmagando-os e arrastando-os para o subterrâneo.
Segundo a lenda, muitas pessoas que passavam pelo local sumiram, entre elas, uma lavadeira, uma criança de um circo, dois militares, um pescador, tropeiros, infinidade de novilhos e cavalos de raça, bois mansos, vacas e terneiros, tantas e tantas vidas foram ceifadas. Além de antigas embarcações, carretas e carroças que nunca mais foram vistas, sumiram sem rastro deixar, sem que nem os cadáveres e nem os veículos jamais fossem encontrados.
Muitos dizem que, até hoje, o monstro da Panela do Candal vive em um túnel abaixo da Catedral de São Sebastião. Ele simplesmente percebeu que se fosse apenas pacífico e brando,não teria sobrevivido diante da vida que lhe ensinou a lutar.

Baseado na obra de Pedro Waine*

Mão Preta

Maximiliano Domingos do Espírito Santo, o popular Preto Caxias, conhecido também como Mão Preta foi filantropo, zelador e enfermeiro, que se destacou com seu trabalho de caridade na cidade de Bagé e região.
Mão Preta era um homem simples, que nasceu no Rio de Janeiro em 1808. Veio para Bagé, aos 36 anos, servindo ao exército brasileiro no 8º Batalhão de Infantaria. Ao sair do exército em 1847 permaneceu na cidade até o final de sua vida. Inicialmente, foi policial, função que exerceu de modo exemplar e de maneira coerente com a Justiça. Após, isso foi trabalhar na Santa Casa de Caridade de Bagé como zelador e enfermeiro. A história conta que o Maximiliano era uma pessoa muito benemérita que viveu seu tempo integral no auxílio de doentes e famílias desamparadas. Seus serviços foram dos mais relevantes em favor da caridade, onde também recolhia pelas ruas da cidade, donativos e esmolas para distribuir e ajudar aos pobres.
Preto Caxias trabalhava no hospital desde a portaria até os quartos no cuidado com os doentes. Ele morreu, com cerca de 80 anos e existem duas hipóteses e lendas populares quanto o seu encontro com a princesa Isabel, que visitou Bagé em 20 de fevereiro de 1885. Uma diz que foi o único a receber a ilustre visita da princesa Isabel na Santa Casa de Caridade, onde teria apertado a mão da nobre. Segundo alguns pesquisadores, o aperto de mão poderia ser de seu marido o conde D'Eu, já que uma princesa não apertaria a mão de um plebeu como reza a tradição monarca.
Outro fato conta que Mão Preta resolveu ir à Igreja de São Sebastião ao encontro de princesa Isabel. O pároco reverendo Bitencourt recebeu a filha do imperador Dom Pedro II na porta da igreja e apresentou Mão Preta dizendo: “este é o Preto Caxias alma mais caridosa da região”.
O tratamento recebido pela princesa e também por toda nobreza, simbolizou a igualdade racial e o fim das diferenças. Considerado na época uma situação incomum, em período de escravidão, onde todos eram muito cheios de preconceitos.
Mão Preta está sepultado em ala nobre do Cemitério da Santa Casa de Caridade de Bagé, próximo ao túmulo do general Antônio de Souza Neto. O túmulo de Mão Preta fica na parte principal da entrada do cemitério e é muito visitado pela comunidade que acredita em seus milagres. Pela benemerência e o auxílio à população, acabou se tornando santificado. O nome Preto Caxias, se deve a ele ter acreditado no modelo dos ideais do Duque de Caxias, mas com o tempo o nome que predominou foi o de Mão Preta.
Até os dias de hoje muitas pessoas veneram Preto Caxias, lhe atribuindo muitas graças, sendo o seu túmulo mais visitado da cidade também no dia de finados. Neste túmulo, há a representação de uma mão branca apertando uma mão preta, simbolizando o famoso aperto de mão entre Mão Preta e princesa Isabel.
Em sua homenagem foi denominada a rua Preto Caxias localizada na zona Sul da cidade, passando em frente ao cemitério, em direção ao bairro Castro Alves até a avenida Itália.
Maximiliano morreu em 1º de julho de 1888, o mesmo ano em que a princesa Isabel assinou a Lei Áurea que decretava a abolição da escravidão no Brasil.

 
Fonte:
Lopes, Mario. Bagé: Fatos e Personalidades. Porto Alegre: Evangraf, 2007
Fagundes, Elisabeth Macedo de. Inventário Cultural de Bagé. Porto Alegre. Praça da Matriz, 2012

A lenda do monstro da panela do Candal ou Cobra Grande

Diziam existir, em Bagé, na Panela do Candal, localizado próximo à Catedral de São Sebastião, um monstro com a forma de uma grande cobra, que, há muito tempo, vivia tranquilo nos cerros do município.
Nesse local havia um rio de respeito, grande e majestoso. Nesse rio, vivia um monstro que não agredia, nem matava e não tinha dentes e nem garras. Pouco se afastava de perto dos rios, procurando as funduras maiores, onde seu corpo coubesse. Ao entrar nas águas estas marulhavam como se estivessem gemendo, esparramando-se pelas margens, sacudindo-se de ondas.
Mesmo não agredindo ninguém, a grande cobra era caçada pelos soldados do tenente-general Dom Diogo de Souza. Por isso, a criatura veio morar na Panela do Candal, uma região próxima ao arroio Bagé. O monstro em forma de cobra gigante cavou um buraco, formando um túnel e dizem que vive até hoje nesse local.
O aldeamento começou a se formar, e o povoado passou à freguesia, multiplicando-se a população. Por isso, a poucos metros da Panela do Candal, foi construída uma capelinha de São Sebastião, onde hoje em dia é a catedral da cidade. Crescia para ele o risco, e desapareciam as possibilidades de ainda poder sair, para ter um pouco que fosse de liberdade e sossego.
Em certo dia, a criatura surgiu despencando as portas da capelinha, destruindo tudo que enxergava pela frente, confrontando os povoadores da nascente da cidade. Foi nesse momento que o monstro em forma de cobra foi ferido por uma lança de um jovem soldado, arrancando o seu olho. Perdido e sem alternativa, ele fugiu, transportando-se pelos ares, jogando-se novamente na Panela do Candal.
A partir disso, a grande cobra se afugentou no buraco, colocando apenas a cabeça para fora da água para respirar. Sentindo-se ameaçado, o monstro feio, caolho e pacífico, continuou escavando e aumentando o túnel, pois precisava espichar-se, descansar e locomover-se. Até que um dia, cansado de ser caçado e de ficar preso embaixo da terra, revoltou-se, atacando uma carroça com dois cavalos e o rapaz que a guiava, fazendo-os desaparecer nas águas, esmagando-os e arrastando-os para o subterrâneo.
Segundo a lenda, muitas pessoas que passavam pelo local sumiram, entre elas, uma lavadeira, uma criança de um circo, dois militares, um pescador, tropeiros, infinidade de novilhos e cavalos de raça, bois mansos, vacas e terneiros, tantas e tantas vidas foram ceifadas. Além de antigas embarcações, carretas e carroças que nunca mais foram vistas, sumiram sem rastro deixar, sem que nem os cadáveres e nem os veículos jamais fossem encontrados.
Muitos dizem que, até hoje, o monstro da Panela do Candal vive em um túnel abaixo da Catedral de São Sebastião. Ele simplesmente percebeu que se fosse apenas pacífico e brando,não teria sobrevivido diante da vida que lhe ensinou a lutar.

Baseado na obra de Pedro Waine*

domingo, 17 de fevereiro de 2019

Antigo Mercado Público

O Mercado Público era localizado onde, hoje, está situado o Obinotel, o edifício Silveira Martins e os prédios do Conjunto Consórcio.
Na esquina do hotel ficava a Casa São João, na face Sul ficavam os armazéns e restaurantes populares, onde se reuniam os caixeiros viajantes. Na face Norte situavam-se as lojas de armarinhos, algumas com apenas uma porta. Aí começaram os comerciantes Salim Kalil e Felipe Kalil. Nos fundos do mercado, que se abria ao largo da bandeira, localizavam-se os açougues. No chamado Torreão Norte estava a “Agência Lotérica”. No interior do conjunto estavam as diversas bancas, que vendiam de hortigranjeiros aos peixes. No centro do mercado havia um quiosque de madeira, lugar onde eram servidos aperitivos aos frequentadores. Tendo marcado época na cidade, o Mercado Público foi concluído em 1922 e demolido em 1953.